Guetos precisam de heróis
Pretos, digam, desde quando o medo existe entre nós?
Peço a Ogum: proteja meu ex-algoz
No flow, rapaz comum tem como arma sua voz
Vou cortando como lâmina, seguido pelas câmeras
Causando pane nas máquinas, cantando que inflame
As favela pique enxame, pras vida que tão arame
Já chego no Kamehamehá, progresso vem das gambiarra
Sagaz, agradeço a Deus por meus ancestrais,
Fazendo o que outros não faz, com dez vezes mais
Na manga o ás, o rap em cartaz
E o mundo todo vai saber do que a gente é capaz
Nasci preto, sem grana, num país de terceiro mundo
Vixe, cê acha que eu assusto com o termo crise, negão?
Olha como chego, me concentro no jogo
Topo topo e vamo caí pra dentro
Vendo o que nem Pierre Verger, viu
Sem essa de "tadinho dos neguinho", shiu!
Aja como se eu tivesse na outra ponta do fuzil
Quando cê nem lembra que meu cabelo parece bombril
Sabe tio, é sem dilema, algum dinheiro soluciona problema
Muito dinheiro traz novos problemas
Ligeiro, pique o passo do Flash Dance
Faço rima, os verme some igual jato da Air France
Sou o padre do balão, é coisa arcaica
Mas homem mesmo é igual P.O.Box ou Beto Jamaica
Então, me mira mais me erra
Senão vou ter que te mostrar com quantos favelados se faz uma guerra
Mixtape, de mão em mão pelas esquina
Se alastra entre os irmão mais do que a gripe suína
Os gambé qué, mas não pode me por algema
Cês esperava que eu roubasse tudo, menos a cena
Já é hora do jogo virar, a nosso favor, né?
Faça o favor Zé, pras rima trincar
Não sai pra rua se não sabe brincar, morô?
Já é hora do jogo virar
Disposto, na sede, meu caso é grave
Eles qué sacudir a rede, eu vim pra arrancar a trave
Guetos precisam sair do vermelho
Ter cabelo duro e achar foda quando olhar no espelho
Sem pagar pra capitães do mato
Que como cães não passam de lacaios do sistema, que desrespeita mães
Ainda ouço as chicotadas
O esquisito é que silenciaram seus gritos
Rap tem mó respeito, mas tá sumido
Tipo a Glória Maria das tela (então)
E aí, favela? Tô pra honrar a camisa
Nóiz vai fala pra quem concorda ou pra quem precisa?
Contrariar a meta imposta pelas pesquisas
Realmente bater de frente, tombar as divisa
Acima da média, algemas ou rédias em pauta
A cota hoje é fazer preza, eu faço falta
Respeito o choro se for violão, pandeiro e flauta
E a linha da miséria já me pareceu mais alta
Repórteres me chamam de fenômeno, eu amo
Mas a rua sabe que eu sou só mais um mano
Consegue me ver e se ver no plano
Trampando pra caralho, sem pegar um atalho (e aí, tio, vamo?)
Rap toca nas passarela da Gisele
Mas se não for favela, não dá certo tipo Ronaldo com a Cicarelli
Rola, até que o mais real se revele
Aposentando os falso que põe pra canta os Pirelli
Ganha dinheiro pra sair do mafuá
Se mantém verdadeiro pra aguentar
Cordão de ouro e os patuá, os tesouro vão chegar
Vai besouro, tá na hora de avua!
Já é hora do jogo virar, a nosso favor, né?
Faça o favor Zé, pras rima trincar
Não sai pra rua se não sabe brincar, morô?
Já é hora do jogo virar
Disposto, na sede, meu caso é grave
Eles qué sacudir a rede, eu vim pra arrancar a trave
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